Cuidar da cidade é o dever de todo aquele que nela habita. No entanto, esse cuidado não é algo inato, ele precisa ser construído, valorado, como todas as categorias que circundam o nosso dia-a-dia. O caminho mais profícuo e consensual para tal construção é o de atuar na formação dos estudantes do Recife, pensando conjuntamente noções como a de paisagem, a de preservação, e a de patrimônio cultural. Esse processo formativo deve pensar o universo no qual esses estudantes estão inseridos, o entorno da escola, do seu bairro, e fortalecer os vínculos que os conectam aos espaços cotidianos.
Foi pensando nesse fortalecimento que a Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC), da Secretaria de Planejamento Urbano da Cidade do Recife elaborou o Projeto “O Bairro da Gente”. A iniciativa tem como objetivo principal produzir junto às (aos) estudantes dos anos iniciais (1º ao 5º ano), e/ou finais (6º ao 9º anos) e também estudantes que participam dos programas “Se Liga”, “Acelera”, “Travessia”, “Projovem” e “EJA” da Rede Municipal de Ensino do Recife, uma sensibilização para a leitura do espaço em que vivem e das relações que nele se desenvolvem para então reconhecer o que para a comunidade é importante ser preservado e reconhecido como patrimônio.
Dessa forma, propõe-se ações centradas na autopercepção das crianças enquanto conhecedores dos seus lugares e integrantes de um ambiente que vai além da vizinhança imediata. Logo, no segundo momento, busca-se enfatizar a cidade enquanto um evento não apenas físico, mas também de memória construída coletivamente. Nessa medida, se a experiência é iniciada a partir das histórias de lugares específicos, em complementação, são apresentados outros elementos da memória da cidade. Logo, entende-se que o caminho mais fértil para a internalização da noção de cidade é atuando na formação das meninas e dos meninos do Recife.
Para tanto, alguns instrumentos conceituais se apresentam enquanto de suma importância, como por exemplo, “paisagem”, “preservação”, e “patrimônio cultural”. Esses elementos se apresentam enquanto fundamentais, posto que é a partir deles que temos a construção de uma imagética e imaginário de cidade. Se encontra fundado nesses elementos, por exemplo, a construção da história oficial da cidade e dos fatos marcantes da sua constituição. Nessa medida, não se faria possível construir noções de participação da cidade, sem a construção dos documentos dessas ocupações. Portanto, espera-se que esse processo formativo possa constituir um universo de significados coletivos no qual os alunos se encontrarão inseridos, e a partir do entorno da escola, dos seus bairros, possam estabelecer vínculos para além dos espaços cotidianos.
A ação também conta com o apoio de espaços culturais do Recife - como o Museu da Cidade do Recife, Museu do Trem, Instituto Ricardo Brennand e o COMPAZ Ariano Suassuna - em que os estudantes realizam visitas guiadas.
A ação teve início no ano de 2017, e até o ano de 2019, 12 Escolas Municipais e uma Biblioteca Comunitária foram contempladas com a atividade.